Antes de avançar com o post, um aviso à navegação : o tema hoje é sério. Nem só de disparate vive este espaço. Sim, vive maioritariamente de disparate, e assim continuará a ser, nada temam.
Desde o momento em que acordamos, desde o primeiro segundo do nosso dia acordados, quantos filtros usamos? 10? 20? Mais? Quanto coisas fazemos , apenas e só, movidos por obrigações e convenções? 10? 20? Mais?
Há dias falava com um amigo (daqueles com quem dá gosto debater estes temas que podemos esmiuçar e esmiuçar, entre um esgrimir de argumentos que não acabam) sobre os filtros que todos nós, repito, todos nós, usamos diariamente. Que tipo de pessoas seríamos sem eles? Seríamos alguém semelhante a quem somos? Ou, pelo contrário, o oposto? E quando juntamos a esta equação todas as obrigações diárias às quais não podemos fugir? Seríamos apenas uma sombra daquilo que fazemos todos os dias? Alguém nos conhece, verdadeiramente? Alguém conhece verdadeiramente a pessoa que nós somos, a pessoa que seríamos, se pudéssemos ser apenas nós?
Sem filtro, como nos comportaríamos no trânsito? Como lidaríamos, diariamente com os colegas de trabalho? Como seria o nosso comportamento em família? Como lidaríamos com as pessoas intratáveis que se atravessam nos nossos caminhos diariamente? Se pudessemos responder, fazer, dizer, criticar, elogiar, discutir, não aceitar, não acatar e até recusar sem pensar nas consequências? No fundo, quem seríamos se nos fossemos totalmente fiéis?
Eu já fiz este exercício, e confesso que o resultado é ligeiramente assustador. Seria uma pessoa tão diferente daquela que sou, que eu própria mal me reconheceria. A verdade, caros leitores, é que, palpita-me, todos nós seríamos outras pessoas. A verdade é que, sejamos honestos, desde o momento em que acordamos, e sob pena de ficarmos sozinhos, desempregados, ostracizados em geral e, no limite, até detidos num qualquer estabelecimento prisional, somos pessoas que engolem sapos atrás de sapos, a fim de encaixar nesta Sociedade cheia de regras e atitudes politicamente correctas. Somos contidos, filtrados e politicamente correctos. Actuamos, com um enorme jogo de cintura e à conta de muito esforço, quase 24h por dia. Não será apenas nos momentos em que estamos sozinhos, absolutamente sozinhos, que somos verdadeiramente nós? Quantas pessoas nos conhecem verdadeiramente? Provavelmente, nenhuma. E nós? Quantas pessoas conhecemos verdadeiramente?
Se, por um lado, tudo isto é bom porque é tudo isto que permite manter a "ordem natural das coisas", por outro, é sufocante. Vocês não sei, mas eu estou cansada de usar tantos filtros. Vamos cortar alguns?